Nossa visita ao restaurante Paraíso Tropical, no Cabula, foi mais que a degustação dos pratos propostos para o Restaurante Week. Depois de comer a salada Duka, um gostosa combinação entre azedinho e doce, uma moqueca mista com temperos orgânicos, locais, e, de sobremesa, frutas da época, também locais, e doce artesanal de banana, uma boa surpresa de um metro e meio de altura se aproximou de nós.
O chef do restaurante, Beto Pimentel, passando despreocupado pelas mesas, contando um pouco de seus casos, resolveu tranquilamente sentar-se na nossa para tomar seu café - um copo longo, cheio de café, que pensei que fosse suco de tamarindo. Eram 11 horas da noite.
Assim que ouviu minha tosse, perguntou a Duda: “o que é que essa menina está tomando, hein?”. Imediatamente depois de me ouvir, sugeriu-me duas plantas do seu pomar e, depois de duas horas de conversa, eu tinha na bolsa, uma planta, um tomate, gengibre e doce de banana artesanal. Tudo do quintal dele.
Falador, um verdadeiro contador de causos, contou-nos histórias de sua vida, revelou sua idade (78 anos??? Inacreditável!) e nos fez rir do início ao fim. Se você buscar informações sobre ele na internet, vai ver que não fomos brindados com uma ilustre “aparição”.
O chef não tem cerimônias, tampouco medo de contar suas receitas. Ensinou-me a fazer um refogado de língua de vaca e, ao passear pelo pomar (“venham de dia, é mais bonito”), nos colocou a provar folhas de todo o tipo de planta. Prova essa, é um vinagre. E essa também. Olha, nada melhor para acompanhar a salada, é o próprio vinagre. E essa aqui é tempero. Ah, mas tem a planta para sua garganta, já ia me esquecendo. Olha, encontrei um tomate - toma para você, leve pra casa. E o agrião selvagem, conhece? Toma, é uma delícia. E vai colocando folhas na sua mão para você comer.
Inevitável. Se você entrou no pomar com ele, vai acabar provando todo tipo de folha. “É orgânica, pode comer”. Até folha de begônia eu comi. Depois de pegar uma erva para que eu fizesse chá, percebeu que tinha colhido junto folhas de begônia. Não hesitou: colocou parte delas na minha boca, outra parte comeu ele mesmo. Até Duda, que não é dado a muitas experiências alimentares “exóticas”, provou de tudo um pouco.
Atento, enquanto fazíamos esse passeio tranquilo, viu que os biri-biris estavam quase no ponto para serem colhidos, explicou porque cultiva os coqueiros na casca do coco e percebeu que haviam esquecido um copo ali, no meio do pomar.
Na volta à mesa, explicou mais uma vez como eu deveria preparar o chá, contou causos de seus filhos e suas (ex-) mulheres, mostrou a receita de como viver bem a vida - desde uma boa digestão até o bom relacionamento entre homem e mulher - e riu. Pagamos a conta, ele foi conosco - os últimos clientes ainda presentes no restaurante, de luzes já apagadas - até a frente. Como quem se despede de uma visita nas cidades do interior, em que se acompanha a pessoa até a porta, conversa mais um bocado e depois se despede, contou mais algumas histórias no portão, riu, desejou-nos bons dias e boa vida, e foi-se embora. Mas não sem antes oferecer um último conselho: “Faz o gargarejo assim que chegar em casa, hein?”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário