sábado, 1 de setembro de 2012

Todos perde

Não sei o que houve com os assessores dos candidatos a uma vaga para as eleições de Salvador na elaboração das campanhas midiáticas. Aqueles que optaram por fazer uso das várias mídias, não realizaram até agora nada além de um grande equívoco.

Diferentes candidatos, mesma grande ideia...
São placas e mais placas e, eu acrescentaria, dinheiro e mais dinheiro, jogados ao vento. Literalmente. Impressionante como os candidatos e seus assessores foram incapazes de pensar uma campanha inteligente (que, certamente, daria mais trabalho) e optaram por ser apenas massacrantes e poluidores, para não dizer ignorantes. A última novidade em publicidade foi a inclusão de mulheres vestidas de branco e jeans e uma peruca ROSA CHOQUE para chamar a atenção dos motoristas às placas posicionadas nas ruas. É realmente um choque.

Dúvidas sobre as perucas? Há! Aí estão elas...
Como acreditar que Mario Kertesz (apenas para dar um exemplo prático) vai tirar o lixo das ruas (como ele mesmo sugere em um dos cartazes) se ele, junto com seus outros colegas de (a)profissão, já poluem antes mesmo de serem eleitos?

Como acreditar que farão um bom uso da verba pública, se já vem desperdiçando dinheiro - parte dele, também público -, como se não houvesse amanhã, em campanhas mal elaboradas, dispendiosas e sem nenhuma sustentabilidade? 

Como acreditar que qualquer um deles pretende melhorar as condições de trânsito da cidade se, eles mesmos, as complicam e colocam em risco a vida de membros da população ao colocarem placas rentes a vias de acesso rápido de veículos, placas essas que, muitas vezes, caem nas ruas quando carros (e pessoas) podem estar por perto?

Como acreditar em candidatos que, para terem suas placas bem posicionadas, têm seus funcionários estacionando seus caminhões - eu disse, caminhões - em meio a pistas rápidas, simplesmente assim, porque são caminhões a trabalho para candidatos, esquecendo-se completamente de qualquer lei de trânsito?

Como confiar naqueles que estão fazendo completo mal uso - e, quem sabe, até mesmo irregular - do espaço público, enfiando placas em jardins, canteiros, passeios públicos e separação de pistas? Como? Como?

Cavaletes não só em Salvador?
É curioso atentar para o discurso dos candidatos a prefeito. Todos eles atacam a administração atual - não sem razão - mas usam apenas o bordão "Nossa cidade está abandonada" e provam, através dele, que o abandono também os agrada, porque podem fazer dela o que bem entendem.

Na internet, já vi mobilizações de artistas para convocar os cidadãos a "sequestrarem" uma das placas com o intuito de reconfigurá-la e devolvê-las às ruas. Em meio a uma dessas mobilizações e muitos "curtir", alguém escreveu "Isto é crime eleitoral, previsto na lei blá blá blá". Se "atacar" as placas é mesmo um crime eleitoral, antes disso, deveria ser crime colocar placas onde quer que queiram, usar e abusar dos recursos e do poder, mentir, omitir, ludibriar, e todos os verbos que acompanham as campanhas eleitorais no Brasil.


Reinventando o cotidiano...
Cada placa, cada sorriso, cada frase de efeito que leio ao longo das ruas mostra o quanto os políticos  me subestimam, o quanto estão seguros de que não é preciso muito para serem eleitos. Muito só mesmo o dinheiro para colocar placas em lugares indevidos, poluir minhas vistas e meu cérebro, ocasionar possíveis acidentes de trânsito. Pouco porém foi o emprego da capacidade cognitiva que, certamente, acreditam não ser necessária para convencer os eleitores ao voto. Basta um sorriso, uma placa, um aceno, um "é preciso ser do povo".

Para Salvador, em meio a candidatos de índole absolutamente duvidosa, fica já um meme registrado. Com campanhas que demonstram ineficiência, inabilidade, incapacidade de seus candidatos a prefeito e a vereador, só é possível pensar - e dizer - uma coisa, bem aos moldes da internet: #todosperde na eleição.

P.S: atualizando, há também a iniciativa do "Sujo sua cara", divulgada através do Facebook, em que os cavaletes têm sido pintados e devolvidos às pistas: https://www.facebook.com/sujosuacara

Paraíso


Nossa visita ao restaurante Paraíso Tropical, no Cabula, foi mais que a degustação dos pratos propostos para o Restaurante Week. Depois de comer a salada Duka, um gostosa combinação entre azedinho e doce, uma moqueca mista com temperos orgânicos, locais, e, de sobremesa, frutas da época, também locais, e doce artesanal de banana, uma boa surpresa de um metro e meio de altura se aproximou de nós.

O chef do restaurante, Beto Pimentel, passando despreocupado pelas mesas, contando um pouco de seus casos, resolveu tranquilamente sentar-se na nossa para tomar seu café - um copo longo, cheio de café, que pensei que fosse suco de tamarindo. Eram 11 horas da noite.

Assim que ouviu minha tosse, perguntou a Duda: “o que é que essa menina está tomando, hein?”. Imediatamente depois de me ouvir, sugeriu-me duas plantas do seu pomar e, depois de duas horas de conversa, eu tinha na bolsa, uma planta, um tomate, gengibre e doce de banana artesanal. Tudo do quintal dele.

Falador, um verdadeiro contador de causos, contou-nos histórias de sua vida, revelou sua idade (78 anos??? Inacreditável!) e nos fez rir do início ao fim. Se você buscar informações sobre ele na internet, vai ver que não fomos brindados com uma ilustre “aparição”. 

O chef não tem cerimônias, tampouco medo de contar suas receitas. Ensinou-me a fazer um refogado de língua de vaca e, ao passear pelo pomar (“venham de dia, é mais bonito”), nos colocou a provar folhas de todo o tipo de planta. Prova essa, é um vinagre. E essa também. Olha, nada melhor para acompanhar a salada, é o próprio vinagre. E essa aqui é tempero. Ah, mas tem a planta para sua garganta, já ia me esquecendo. Olha, encontrei um tomate - toma para você, leve pra casa. E o agrião selvagem, conhece? Toma, é uma delícia. E vai colocando folhas na sua mão para você comer.

Inevitável. Se você entrou no pomar com ele, vai acabar provando todo tipo de folha. “É orgânica, pode comer”. Até folha de begônia eu comi. Depois de pegar uma erva para que eu fizesse chá, percebeu que tinha colhido junto folhas de begônia. Não hesitou: colocou parte delas na minha boca, outra parte comeu ele mesmo. Até Duda, que não é dado a muitas experiências alimentares “exóticas”, provou de tudo um pouco.

Atento, enquanto fazíamos esse passeio tranquilo, viu que os biri-biris estavam quase no ponto para serem colhidos, explicou porque cultiva os coqueiros na casca do coco e percebeu que haviam esquecido um copo ali, no meio do pomar.

Na volta à mesa, explicou mais uma vez como eu deveria preparar o chá, contou causos de seus filhos e suas (ex-) mulheres, mostrou a receita de como viver bem a vida - desde uma boa digestão até o bom relacionamento entre homem e mulher - e riu. Pagamos a conta, ele foi conosco - os últimos clientes ainda presentes no restaurante, de luzes já apagadas - até a frente. Como quem se despede de uma visita nas cidades do interior, em que se acompanha a pessoa até a porta, conversa mais um bocado e depois se despede, contou mais algumas histórias no portão, riu, desejou-nos bons dias e boa vida, e foi-se embora. Mas não sem antes oferecer um último conselho: “Faz o gargarejo assim que chegar em casa, hein?”.

sábado, 6 de novembro de 2010

Orgulho de ser...

Eu fui caminhar. Era praia o cenário. Bahia era o cenário. Mais especificamente, Salvador. E enquanto eu caminhava, meu pensamento perambulava sobre as páginas de Internet que vasculhei entre ontem a tarde e hoje de manhã, falando sobre as discussões de todas as ordens geradas a partir do comentário de uma estudante de direito sobre os nordestinos.

Eu li de tudo ontem. Desde o sujeito dizendo "morte aos nordestinos", ao sujeito que dizia "paulistas fedorentos" ou algo assim. Ódio pra lá, ódio pra cá. Minha atenção ficou mais voltada para isso quando, nas atualizações de meu perfil, fui confrontada com afirmações (e argumentações) bastante confusas sobre o "problema" dos nordestinos. Tudo em erupção depois de uma campanha política de baixo nível, de um lado e de outro. Os pensamentos que já estavam lá, em uma população que cada vez mais acredita que faz sua parte, mas que os outros não.

Esses "outros" percorrem a história do Brasil há tempos. Estereótipos de um povo "jeca", paradigmas de nossa nação, são encontrados em Jeca Tatu, Zé Povo, Mazzaropi. Eles sempre são os outros, os que não sabem, os que não merecem, os que não tem.

Da idéia de um povo que não sabe votar - e que não sou eu - e de um povo que só sabe festar - e que também não sou eu - concretiza-se um movimento de #orgulhodenãosernordestino. De ódio, de preconceito, de estereótipos.

Eu estive em uma cidade do Sul do Brasil e lá, ao dizer que vivia na Bahia, ouvi piadas de todos os tipos, de gente que em nada representa o estereótipo. Era a gente que supostamente vota bem, que supostamente exerce bem seu direito e DEVER de cidadão. Os comentários todos expressavam a idéia de um povo que só sabe festar, de um povo que tem preguiça de trabalhar, de um povo, apesar das características anteriores, "acolhedor", como insistem em dizer os anúncios turísticos. 

Dessa brincadeira aparentemente boba depreende-se o estereótipo de um povo que, supostamente, não trabalha, e vive de Bolsa Família. Mas você quer um bom exemplo?

No interior da Bahia, onde o IDH varia de 0,77 a 0,52 (enquanto no interior de São Paulo varia de 09, a 0,8), uma mulher/menina trabalha por 80 reais por mês como empregada doméstica, morando na casa dos empregadores. Justamente por morar na casa deles e, portanto, não pagar supostamente aluguel ou ter qualquer gasto, paga-se 80 reais. Eu frizo: por mês. Muitas dessas meninas/mulheres vêm para Salvador com a expectativa de ganhar um melhor salário, e ganham então um salário mínimo e, quem sabe, um vale transporte para ir ao trabalho. 5 reais e 4 horas dentro de ônibus circulares massacrantes e perigosos são, em geral, necessários para ida e vinda no trabalho.

Essa mulher que ganha 80 reais a hora passa a reivindicar um melhor salário quando o Estado apresenta a ela uma melhor possibilidade. E os patrões são pressionados a melhorar o salário para manter essa funcionária em sua casa. É a lei da oferta e da procura.

Outro caso: trabalhadores, no interior da Bahia, chegam a ganhar 10 reais por dia para trabalhar em lavouras. Trabalhando 30 dias, ininterruptamente, o sujeito ganha 300 reais. E você poderia dizer, "ah, está ótimo para quem mora em lugares em que se gasta menos". Ainda que eu possa discordar dessa argumentação, não é aí que está o drama. O problema? O patrão cobra dele, ainda, o almoço, caso ele não traga sua própria refeição.  O que faz o salário dele saltar dos incríveis 300 reais a 150 reais, por mês.

Quando vejo a imagem que as pessoas têm da Bahia - e do Nordeste como um todo - como um lugar de vagabundos, de pessoas que vivem atrás de trios elétricos, não sou capaz de entender a partir de que momento essa imagem fantasiosa passa a se constituir uma fantasiosa realidade. São eles o nosso Zé Povo.
Ladrões há, porém, em toda parte - e isso não é vantagem nem para o Nordeste, nem para o Sudeste. Basta ler com mais atenção os jornais ou buscar melhores informações para perceber que Serra, Sarney, Dirceu e Pallocci podem estar envolvidos em escândalos muito parecidos. Portanto, não se trata aqui de defender os honestos contra os corruptos; os verdadeiros cidadãos, dos malandros, como o processo eleitoral pareceu suscitar, e o movimento "ódio ao nordestino" pareceu consolidar.

Não se trata então de desenvolver e/ou fomentar ódio aos nordestinos e colocar neles a "culpa" que, se existe, é, na verdade, de todos nós. A falta de Educação "deles" é também nossa falta de Educação, a falta de conhecimento "deles" é também a nossa. E quando se justifica tanto ódio na eleição de um suposto candidato corrupto/ladrão por esses mesmo "eles", há também muito o que se refletir.

Ao furar uma fila, ao subornar um garçom para conseguir uma mesa, ao não respeitar as leis de trânsito, estamos todos infringindo leis, normas. Assim como os governantes que roubam milhões. Você pode dizer: que absurdo sua comparação! Mas basta ir a um país extremamente organizado como a Alemanha, por exemplo, para perceber que cada indivíduo entende seu DIREITO e DEVER como cidadão, e respeita leis - e os cidadãos.

A História ensinou a eles aquilo que a escravidão não nos foi capaz de ensinar. Os traumas sofridos por uma civilização massacrada pelo preço do trabalho escravo ainda não foram devidamente recuperados e refletidos em nosso país.

Enquanto isso, seguimos culpando os outros, os Mazzaropi de nossa nação, de todos os erros, da miséria, da preguiça, da falta de desenvolvimento, da corrupção. Todavia, te dou aqui uma sugestão. Vá a São Paulo e veja quem são TODOS os que movimentam o trabalho da cidade. Eu disse todos, justamente para mostrar que não há aqui uma separação entre os bons do Nordeste e os maus do Sudeste, como se poderia querer inferir de meu texto. Vá a Salvador e veja quem está pulando atrás dos trios durante o carnaval. Vá ao interior de qualquer lugar do Nordeste e perceba o que a população que vive em pobreza e miséria absoluta precisa.

O Bolsa Família pode não ser um programa perfeito, mas tem trazido a essas famílias condições que, para boa parte dos que moram em São Paulo (ou ao menos para as pessoas do Sul e do Sudeste que podem se manifestar pelas diferentes mídias), está garantida desde o nascimento.

Não se trata, portanto, de separar "sulistas" e "nortistas", bons e maus, inteligentes e burros, honestos e corruptos. Trata-se de reconhecer que o Brasil é uma imensa nação, com discrepâncias do tamanho de suas fronteiras. E que nós, tão pequenos, seremos incapazes de apreender toda essa diferença, se não nos propusermos a olhar verdadeiramente ao redor, visitar comunidades carentes, entender as diferenças e dificuldades de cada região.

De "superioridade" já basta o que Hitler tentou nos mostrar. E, depois de muitos mortos, falhou.

Da próxima vez que vier a Bahia, ou a qualquer outro lugar do Nordeste, e caminhar pelas areias de uma bela praia, procure também entender a história daquele povo, daquele Estado. E exerça sua cidadania aqui também, não só dentro dos muros da realidade em que você vive, sem miséria, com muito Orkut, Facebook e Twitter. Ser um cidadão respeitado requer exercer direitos e deveres. Mas isso já é um clichê enorme. Não?

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ficha Limpa

Von: Graziela Tanaka - Avaaz.org
An: "isaviscardi@yahoo.com.br"
Gesendet: Donnerstag, den 23. September 2010, 13:01:20 Uhr
Betreff: Horas para salvar a Ficha Limpa

Certifique-se que os alertas da Avaaz chegam na sua caixa de entrada: clique em "Adicionar aos contatos" ou em "Não é spam" se você encontrou este email na sua caixa de spam. Se você quiser ser removido da lista clique aqui.

Caros amigos, 

O STF pegou fogo ontem enquanto os Ministros debatiam a constitucionalidade da Ficha Limpa por mais de 4 horas. A decisão foi adiada para hoje e o resultado final irá determinar se os 242 corruptos, incluindo Paulo Maluf e Jader Barbalho, poderão se eleger dentro de duas semanas. 

Nós só temos algumas horas para mostrar para os Ministros que são contra a Ficha Limpa, que toda a sociedade brasileira apóia esta lei, e que queremos que eles representem o povo, não os criminosos, quando votarem hoje. 

Os Ministros contra a Ficha Limpa são Celso de Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Ellen Gracie e Cezar Peluso. Vamos ligar para eles agora, inundando seus escritórios com mensagens de todo o Brasil dizendo a mesma coisa: "Queremos que você defenda a constitucionalidade e a aplicação imediata da Ficha Limpa". Leva apenas 2 minutos, clique abaixo para ver os telefones: 

http://www.dicasdebrasilia.com.br/078/07807001.asp?ttCD_CHAVE=4301&ttParametros&btImprimir=SIM 

O Ministro Carlos Ayres Britto foi o grande herói do dia, defendendo ferozmente a aplicação imediata da Ficha Limpa. Ele, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Joaquim Barbosa irão votar com o povo brasileiro, a favor da Ficha Limpa. 

85% dos brasileiros apóiam a Ficha Limpa e mais de 2 milhões se mobilizaram pela aprovação da lei. Juntos, nós geramos uma onda de esperança por um governo sem corrupção nunca antes vista. Este poderá ser só o começo de uma política que trabalha para o povo e não os bolsos dos políticos. 

Com esperança, 

Graziela, Ben, Alice, Paula, Iain, Mia, Dominick e toda a equipe Avaaz 

PS. Após ligar, escreva para portugues@avaaz.org contando como foi. 

Leia mais: 

Votação da Ficha Limpa deve empatar:
http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,votacao-da-ficha-limpa-deve-empatar,611790,0.htm 

AMB/Ibope: 85% dos brasileiros são a favor da Ficha Limpa: 
http://noticias.terra.com.br/eleicoes/2010/noticias/0,,OI4690014-EI15314,00-AMBIbope+dos+brasileiros+sao+a+favor+da+Ficha+Limpa.html 

Movimento em defesa da Ficha Limpa já tem 140 mil assinaturas: 
http://extra.globo.com/geral/extraextra/posts/2010/09/21/movimento-em-defesa-da-ficha-limpa-ja-tem-140-mil-assinaturas-326257.asp 



domingo, 15 de agosto de 2010

Lixo aqui e lá, lixo em todo lugar.

Cheirinho de pipoca, barulhinho de refrigerante passando pelo canudinho, luzes se apagando. Estou em uma sessão de cinema em um grande cinema de Salvador. Eu gosto de cinema, mas não gosto da pipoca, nem do refrigerante. Rabugenta?

Depois de assistir a um filme de duas horas e meia de duração, as luzes se acendem. Qual não é minha surpresa ao olhar ao redor e me deparar com sujeira, muita sujeira. Aquela sala de cinema foi "sucateada" por digníssimos clientes durante todo o dia. No chão, pipoca. Muita pipoca. Nos espaços entre uma fileira e outra, embalagens plásticas, canudos, copos. Nós não estamos falando aqui de um caso raro, de uma cena pouco conhecida, este é o cotidiano das grandes salas de cinema. 

Reclama-se com frequência de políticos, autoridades públicas, do vizinho, do pobre, mas a sujeira está em toda a parte, nas ruas, nos cinemas, nas praias, nos pontos de ônibus. Se não estamos falando de lixo em formato de detritos sólidos, estamos falando de poluição sonora. Mas isso já é uma outra história.

Em Salvador eu já vi de tudo um pouco. Até coco sendo jogado pela janela do ônibus. Os sujeitos da história, de acordo com as más línguas? Os mais pobres e menos escolarizados. A justificativa? A mais comum é de que as pessoas acreditam ser importante jogar o lixo na rua para manter o emprego do catador de lixo da Prefeitura.

Essa é, no entanto, uma lenda urbana. Ou, então, só uma parte da história. De carros luxuosos eu já vi "saltar", como num passe de mágica, pacotes inteiros do Mc Donalds. Eu disse INTEIROS. Dentro deles, provavelmente até o copo. Incrível, não? A facilidade com que as pessoas se esquecem de cuidar do bem público é tão grande, que não posso ouvir uma reclamação sequer sobre o poder público. "Ah, é um absurdo o que eles fazem com nossas ruas, sem pavimentação, sem cuidado, sujas". Antes de ser um absurdo o que faz o poder público, é chocante aquilo que nós, todos os dias, deixamos de fazer pelo bem público. Por nossas vias, pelas praças, pelas calçadas, pelas praias.

Nas praias, não é preciso recolher o lixo: o barraqueiro está lá para fazê-lo assim que a barraca fechar. Nas ruas se joga lixo com a justificativa de que não há lixeiras; quando elas estão lá, estão - muitas vezes - vazias. E nos cinemas? Não há nada diferente por lá. E eu me pergunto (aquele clichê mesmo): em suas próprias casas, as pessoas assim também o fazem? Deixam lixo no chão, na sala, nos quartos, nos banheiros? Ou há lá, mais uma vez, uma empregada a salvar-lhes de sua porcalheira?

É, as funcionárias do lar devem estar lá. Que pena que estão, pela falta de oportunidade de outros trabalhos. As pessoas se acostumam mal, acreditam sempre ter alguém para fazer por eles aquilo que eles deveriam fazer. Provincianismo sem fim.

E eu me pergunto: como educar uma população que não tem visão pública e coletiva de ocupação dos espaços? Como desafogar os cinemas de pipocas espalhadas e embalagens de todos os tipos, e preenchê-los unicamente de pessoas interessadas em se divertir? E nossas ruas? Você já se perguntou como se comporta ao se deparar com um papel de bala nas mãos? Já esteve atento à sua atitude quando esteve diante de alguém que jogava lixo pela janela? Proteger os espaços públicos, coletivos é sua função, minha função, nossa função. E vale a máxima, o clichê: cada um faz sua parte, e, juntos, seremos mais. 




quarta-feira, 21 de julho de 2010

Um buraco em meio a asfaltos na Salvador chuvosa

(Texto enviado aos vereadores da cidade de Salvador)

A história é basicamente a mesma 'entra ano sai ano': a constatação de que a cada chuva os buracos aumentam. A solução também é a mesma: operação tapa-buraco. O resultado é também o mesmo: buracos reabertos na próxima chuva.

Todos os anos Salvador é acometida por um período intenso de chuvas. Leia-se: todos os anos. Este é o inverno baiano. E todo baiano sabe disso. O que todo baiano também sabe é que a cada chuva, sua vida se complica. Se mora em regiões de encosta, sabe que corre o risco de perder sua casa. Se pega ônibus, sabe que ele poderá tardar a chegar - alagamentos estão por toda a parte. Se usa carro ou motocicleta para se deslocar, sofrerá dos mesmos problemas que os usuários e motoristas de ônibus: os alagamentos dificultam o trânsito, e os buracos também. 

Mas espere: você está dizendo que as chuvas acontecem em um mesmo período TODOS OS ANOS e os problemas se repetem, também, TODOS OS ANOS? Sim, é o que estou dizendo. Foquemos na questão do asfalto em Salvador.

Seja você morador de São Cristóvão, de Brotas, da Praia do Flamengo, da Liberdade ou do Corredor da Vitória, os buracos nas ruas o acompanham. Ao menos, há que se reconhecer que a Prefeitura está sendo democrática: não há privilégios, é igualdade para todos. Há buracos novos, velhos, retapeados, absolutamente destapados. E nós, nós somos tapeados. Os motoqueiros correm o risco de capotar, os motoristas de veículos médios perdem partes de seus carros pelo caminho, e os pedestres são agraciados com água para todos os lados quando o dia é de chuva.

Parece que uma das justificativas para os buracos é a idade do asfalto. Asfalto velho corre o risco de sofrer mais com as ações das chuvas. Pois bem, se o asfalto é velho, não seria hora de planejar um recapeamento das ruas da cidade? Atenção: eu disse 'planejar', palavra provavelmente pouco presente no vocabulário político brasileiro (e baiano); tudo é feito 'a facão', como diriam os baianos. E, se o asfalto é velho, qual a vantagem de promover uma operação tapa-buraco, colocando parte de um material novo sobre um material velho? Okay, eu não sou nenhuma expert em asfalto, mas sou expert em buracos nas ruas. O resultado das (não) políticas públicas efetivas quando se fala em qualidade do asfalto se vê todos os dias, no verão e no inverno: ruas irregulares, desníveis de todas as ordens, tanto no meio de uma via, quanto em suas bordas. Riscos são os mais diversos, do capotamento ao pneu furado, tudo é possível.

Gostaria de saber como funcionam os processos licitatórios para a manutenção (outra palavra provavelmente esquecida dos órgãos públicos) e recapeamento das ruas de Salvador. Quanto se paga, quanto se gasta, quantas pessoas estão envolvidas, quais as empresas candidatas, quais as vencedoras, qual o teor dos contratos. Como a Prefeitura supervisiona esses contratos? Quais as cláusulas que preveem quebra de contrato? Manutenção mal feita?

Se a Prefeitura ou qualquer outro órgão representativo chama de "política pública" as operações tapa-buraco, talvez eu não entenda mais o sentido desse quase jargão. Se uma política pública está relacionada a projetos que visem a beneficiar uma cidade e seus habitantes, se não de forma permanente, no mínimo de forma prolongada, as operações que se veem nas ruas não são políticas públicas. São políticas engana-bobos.

E nós sacolejamos entre uma eleição e outra, entre um candidato e outro, entre um partido e outro, entre uma rua e outra, entre uma promessa... e outra. E as ruas vão se degradando na mesma velocidade em que se degrada o conceito daquilo que é público e que deveria, portanto, ser bem cuidado e administrado. Muito do que é público hoje nas cidades é descartável, é provisório. O público, no Brasil, é sinônimo de mal-feito, nas mais diversas áreas. Mas bem, isso é outra história, isso é outro post.

P.S--> encontrei uma reportagem que noticia a situação drástica das ruas de Salvador. (http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.jsf?id=4724257). Mas me parece muito pouco, dado que a cidade vive costurada por buracos.