domingo, 15 de agosto de 2010

Lixo aqui e lá, lixo em todo lugar.

Cheirinho de pipoca, barulhinho de refrigerante passando pelo canudinho, luzes se apagando. Estou em uma sessão de cinema em um grande cinema de Salvador. Eu gosto de cinema, mas não gosto da pipoca, nem do refrigerante. Rabugenta?

Depois de assistir a um filme de duas horas e meia de duração, as luzes se acendem. Qual não é minha surpresa ao olhar ao redor e me deparar com sujeira, muita sujeira. Aquela sala de cinema foi "sucateada" por digníssimos clientes durante todo o dia. No chão, pipoca. Muita pipoca. Nos espaços entre uma fileira e outra, embalagens plásticas, canudos, copos. Nós não estamos falando aqui de um caso raro, de uma cena pouco conhecida, este é o cotidiano das grandes salas de cinema. 

Reclama-se com frequência de políticos, autoridades públicas, do vizinho, do pobre, mas a sujeira está em toda a parte, nas ruas, nos cinemas, nas praias, nos pontos de ônibus. Se não estamos falando de lixo em formato de detritos sólidos, estamos falando de poluição sonora. Mas isso já é uma outra história.

Em Salvador eu já vi de tudo um pouco. Até coco sendo jogado pela janela do ônibus. Os sujeitos da história, de acordo com as más línguas? Os mais pobres e menos escolarizados. A justificativa? A mais comum é de que as pessoas acreditam ser importante jogar o lixo na rua para manter o emprego do catador de lixo da Prefeitura.

Essa é, no entanto, uma lenda urbana. Ou, então, só uma parte da história. De carros luxuosos eu já vi "saltar", como num passe de mágica, pacotes inteiros do Mc Donalds. Eu disse INTEIROS. Dentro deles, provavelmente até o copo. Incrível, não? A facilidade com que as pessoas se esquecem de cuidar do bem público é tão grande, que não posso ouvir uma reclamação sequer sobre o poder público. "Ah, é um absurdo o que eles fazem com nossas ruas, sem pavimentação, sem cuidado, sujas". Antes de ser um absurdo o que faz o poder público, é chocante aquilo que nós, todos os dias, deixamos de fazer pelo bem público. Por nossas vias, pelas praças, pelas calçadas, pelas praias.

Nas praias, não é preciso recolher o lixo: o barraqueiro está lá para fazê-lo assim que a barraca fechar. Nas ruas se joga lixo com a justificativa de que não há lixeiras; quando elas estão lá, estão - muitas vezes - vazias. E nos cinemas? Não há nada diferente por lá. E eu me pergunto (aquele clichê mesmo): em suas próprias casas, as pessoas assim também o fazem? Deixam lixo no chão, na sala, nos quartos, nos banheiros? Ou há lá, mais uma vez, uma empregada a salvar-lhes de sua porcalheira?

É, as funcionárias do lar devem estar lá. Que pena que estão, pela falta de oportunidade de outros trabalhos. As pessoas se acostumam mal, acreditam sempre ter alguém para fazer por eles aquilo que eles deveriam fazer. Provincianismo sem fim.

E eu me pergunto: como educar uma população que não tem visão pública e coletiva de ocupação dos espaços? Como desafogar os cinemas de pipocas espalhadas e embalagens de todos os tipos, e preenchê-los unicamente de pessoas interessadas em se divertir? E nossas ruas? Você já se perguntou como se comporta ao se deparar com um papel de bala nas mãos? Já esteve atento à sua atitude quando esteve diante de alguém que jogava lixo pela janela? Proteger os espaços públicos, coletivos é sua função, minha função, nossa função. E vale a máxima, o clichê: cada um faz sua parte, e, juntos, seremos mais.