quarta-feira, 21 de julho de 2010

Um buraco em meio a asfaltos na Salvador chuvosa

(Texto enviado aos vereadores da cidade de Salvador)

A história é basicamente a mesma 'entra ano sai ano': a constatação de que a cada chuva os buracos aumentam. A solução também é a mesma: operação tapa-buraco. O resultado é também o mesmo: buracos reabertos na próxima chuva.

Todos os anos Salvador é acometida por um período intenso de chuvas. Leia-se: todos os anos. Este é o inverno baiano. E todo baiano sabe disso. O que todo baiano também sabe é que a cada chuva, sua vida se complica. Se mora em regiões de encosta, sabe que corre o risco de perder sua casa. Se pega ônibus, sabe que ele poderá tardar a chegar - alagamentos estão por toda a parte. Se usa carro ou motocicleta para se deslocar, sofrerá dos mesmos problemas que os usuários e motoristas de ônibus: os alagamentos dificultam o trânsito, e os buracos também. 

Mas espere: você está dizendo que as chuvas acontecem em um mesmo período TODOS OS ANOS e os problemas se repetem, também, TODOS OS ANOS? Sim, é o que estou dizendo. Foquemos na questão do asfalto em Salvador.

Seja você morador de São Cristóvão, de Brotas, da Praia do Flamengo, da Liberdade ou do Corredor da Vitória, os buracos nas ruas o acompanham. Ao menos, há que se reconhecer que a Prefeitura está sendo democrática: não há privilégios, é igualdade para todos. Há buracos novos, velhos, retapeados, absolutamente destapados. E nós, nós somos tapeados. Os motoqueiros correm o risco de capotar, os motoristas de veículos médios perdem partes de seus carros pelo caminho, e os pedestres são agraciados com água para todos os lados quando o dia é de chuva.

Parece que uma das justificativas para os buracos é a idade do asfalto. Asfalto velho corre o risco de sofrer mais com as ações das chuvas. Pois bem, se o asfalto é velho, não seria hora de planejar um recapeamento das ruas da cidade? Atenção: eu disse 'planejar', palavra provavelmente pouco presente no vocabulário político brasileiro (e baiano); tudo é feito 'a facão', como diriam os baianos. E, se o asfalto é velho, qual a vantagem de promover uma operação tapa-buraco, colocando parte de um material novo sobre um material velho? Okay, eu não sou nenhuma expert em asfalto, mas sou expert em buracos nas ruas. O resultado das (não) políticas públicas efetivas quando se fala em qualidade do asfalto se vê todos os dias, no verão e no inverno: ruas irregulares, desníveis de todas as ordens, tanto no meio de uma via, quanto em suas bordas. Riscos são os mais diversos, do capotamento ao pneu furado, tudo é possível.

Gostaria de saber como funcionam os processos licitatórios para a manutenção (outra palavra provavelmente esquecida dos órgãos públicos) e recapeamento das ruas de Salvador. Quanto se paga, quanto se gasta, quantas pessoas estão envolvidas, quais as empresas candidatas, quais as vencedoras, qual o teor dos contratos. Como a Prefeitura supervisiona esses contratos? Quais as cláusulas que preveem quebra de contrato? Manutenção mal feita?

Se a Prefeitura ou qualquer outro órgão representativo chama de "política pública" as operações tapa-buraco, talvez eu não entenda mais o sentido desse quase jargão. Se uma política pública está relacionada a projetos que visem a beneficiar uma cidade e seus habitantes, se não de forma permanente, no mínimo de forma prolongada, as operações que se veem nas ruas não são políticas públicas. São políticas engana-bobos.

E nós sacolejamos entre uma eleição e outra, entre um candidato e outro, entre um partido e outro, entre uma rua e outra, entre uma promessa... e outra. E as ruas vão se degradando na mesma velocidade em que se degrada o conceito daquilo que é público e que deveria, portanto, ser bem cuidado e administrado. Muito do que é público hoje nas cidades é descartável, é provisório. O público, no Brasil, é sinônimo de mal-feito, nas mais diversas áreas. Mas bem, isso é outra história, isso é outro post.

P.S--> encontrei uma reportagem que noticia a situação drástica das ruas de Salvador. (http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.jsf?id=4724257). Mas me parece muito pouco, dado que a cidade vive costurada por buracos.