sábado, 1 de setembro de 2012

Todos perde

Não sei o que houve com os assessores dos candidatos a uma vaga para as eleições de Salvador na elaboração das campanhas midiáticas. Aqueles que optaram por fazer uso das várias mídias, não realizaram até agora nada além de um grande equívoco.

Diferentes candidatos, mesma grande ideia...
São placas e mais placas e, eu acrescentaria, dinheiro e mais dinheiro, jogados ao vento. Literalmente. Impressionante como os candidatos e seus assessores foram incapazes de pensar uma campanha inteligente (que, certamente, daria mais trabalho) e optaram por ser apenas massacrantes e poluidores, para não dizer ignorantes. A última novidade em publicidade foi a inclusão de mulheres vestidas de branco e jeans e uma peruca ROSA CHOQUE para chamar a atenção dos motoristas às placas posicionadas nas ruas. É realmente um choque.

Dúvidas sobre as perucas? Há! Aí estão elas...
Como acreditar que Mario Kertesz (apenas para dar um exemplo prático) vai tirar o lixo das ruas (como ele mesmo sugere em um dos cartazes) se ele, junto com seus outros colegas de (a)profissão, já poluem antes mesmo de serem eleitos?

Como acreditar que farão um bom uso da verba pública, se já vem desperdiçando dinheiro - parte dele, também público -, como se não houvesse amanhã, em campanhas mal elaboradas, dispendiosas e sem nenhuma sustentabilidade? 

Como acreditar que qualquer um deles pretende melhorar as condições de trânsito da cidade se, eles mesmos, as complicam e colocam em risco a vida de membros da população ao colocarem placas rentes a vias de acesso rápido de veículos, placas essas que, muitas vezes, caem nas ruas quando carros (e pessoas) podem estar por perto?

Como acreditar em candidatos que, para terem suas placas bem posicionadas, têm seus funcionários estacionando seus caminhões - eu disse, caminhões - em meio a pistas rápidas, simplesmente assim, porque são caminhões a trabalho para candidatos, esquecendo-se completamente de qualquer lei de trânsito?

Como confiar naqueles que estão fazendo completo mal uso - e, quem sabe, até mesmo irregular - do espaço público, enfiando placas em jardins, canteiros, passeios públicos e separação de pistas? Como? Como?

Cavaletes não só em Salvador?
É curioso atentar para o discurso dos candidatos a prefeito. Todos eles atacam a administração atual - não sem razão - mas usam apenas o bordão "Nossa cidade está abandonada" e provam, através dele, que o abandono também os agrada, porque podem fazer dela o que bem entendem.

Na internet, já vi mobilizações de artistas para convocar os cidadãos a "sequestrarem" uma das placas com o intuito de reconfigurá-la e devolvê-las às ruas. Em meio a uma dessas mobilizações e muitos "curtir", alguém escreveu "Isto é crime eleitoral, previsto na lei blá blá blá". Se "atacar" as placas é mesmo um crime eleitoral, antes disso, deveria ser crime colocar placas onde quer que queiram, usar e abusar dos recursos e do poder, mentir, omitir, ludibriar, e todos os verbos que acompanham as campanhas eleitorais no Brasil.


Reinventando o cotidiano...
Cada placa, cada sorriso, cada frase de efeito que leio ao longo das ruas mostra o quanto os políticos  me subestimam, o quanto estão seguros de que não é preciso muito para serem eleitos. Muito só mesmo o dinheiro para colocar placas em lugares indevidos, poluir minhas vistas e meu cérebro, ocasionar possíveis acidentes de trânsito. Pouco porém foi o emprego da capacidade cognitiva que, certamente, acreditam não ser necessária para convencer os eleitores ao voto. Basta um sorriso, uma placa, um aceno, um "é preciso ser do povo".

Para Salvador, em meio a candidatos de índole absolutamente duvidosa, fica já um meme registrado. Com campanhas que demonstram ineficiência, inabilidade, incapacidade de seus candidatos a prefeito e a vereador, só é possível pensar - e dizer - uma coisa, bem aos moldes da internet: #todosperde na eleição.

P.S: atualizando, há também a iniciativa do "Sujo sua cara", divulgada através do Facebook, em que os cavaletes têm sido pintados e devolvidos às pistas: https://www.facebook.com/sujosuacara

Paraíso


Nossa visita ao restaurante Paraíso Tropical, no Cabula, foi mais que a degustação dos pratos propostos para o Restaurante Week. Depois de comer a salada Duka, um gostosa combinação entre azedinho e doce, uma moqueca mista com temperos orgânicos, locais, e, de sobremesa, frutas da época, também locais, e doce artesanal de banana, uma boa surpresa de um metro e meio de altura se aproximou de nós.

O chef do restaurante, Beto Pimentel, passando despreocupado pelas mesas, contando um pouco de seus casos, resolveu tranquilamente sentar-se na nossa para tomar seu café - um copo longo, cheio de café, que pensei que fosse suco de tamarindo. Eram 11 horas da noite.

Assim que ouviu minha tosse, perguntou a Duda: “o que é que essa menina está tomando, hein?”. Imediatamente depois de me ouvir, sugeriu-me duas plantas do seu pomar e, depois de duas horas de conversa, eu tinha na bolsa, uma planta, um tomate, gengibre e doce de banana artesanal. Tudo do quintal dele.

Falador, um verdadeiro contador de causos, contou-nos histórias de sua vida, revelou sua idade (78 anos??? Inacreditável!) e nos fez rir do início ao fim. Se você buscar informações sobre ele na internet, vai ver que não fomos brindados com uma ilustre “aparição”. 

O chef não tem cerimônias, tampouco medo de contar suas receitas. Ensinou-me a fazer um refogado de língua de vaca e, ao passear pelo pomar (“venham de dia, é mais bonito”), nos colocou a provar folhas de todo o tipo de planta. Prova essa, é um vinagre. E essa também. Olha, nada melhor para acompanhar a salada, é o próprio vinagre. E essa aqui é tempero. Ah, mas tem a planta para sua garganta, já ia me esquecendo. Olha, encontrei um tomate - toma para você, leve pra casa. E o agrião selvagem, conhece? Toma, é uma delícia. E vai colocando folhas na sua mão para você comer.

Inevitável. Se você entrou no pomar com ele, vai acabar provando todo tipo de folha. “É orgânica, pode comer”. Até folha de begônia eu comi. Depois de pegar uma erva para que eu fizesse chá, percebeu que tinha colhido junto folhas de begônia. Não hesitou: colocou parte delas na minha boca, outra parte comeu ele mesmo. Até Duda, que não é dado a muitas experiências alimentares “exóticas”, provou de tudo um pouco.

Atento, enquanto fazíamos esse passeio tranquilo, viu que os biri-biris estavam quase no ponto para serem colhidos, explicou porque cultiva os coqueiros na casca do coco e percebeu que haviam esquecido um copo ali, no meio do pomar.

Na volta à mesa, explicou mais uma vez como eu deveria preparar o chá, contou causos de seus filhos e suas (ex-) mulheres, mostrou a receita de como viver bem a vida - desde uma boa digestão até o bom relacionamento entre homem e mulher - e riu. Pagamos a conta, ele foi conosco - os últimos clientes ainda presentes no restaurante, de luzes já apagadas - até a frente. Como quem se despede de uma visita nas cidades do interior, em que se acompanha a pessoa até a porta, conversa mais um bocado e depois se despede, contou mais algumas histórias no portão, riu, desejou-nos bons dias e boa vida, e foi-se embora. Mas não sem antes oferecer um último conselho: “Faz o gargarejo assim que chegar em casa, hein?”.